terça-feira, 13 de setembro de 2016

Crônica de uma sexta-feira nublada

Sexta-feira, tarde cinzenta e fria resolvo sair para esticar as pernas, cansadas de ficarem encolhidas pelo frio atípico que se alojou na cidade em junho. Talvez, não fosse a melancolia que sentimos nesses dias mais frios e nos torna mais sensíveis, eu não perceberia o que vejo todos os dias.

Não pude me esquivar dos sentimentos que tomaram conta da minha nostalgia ao olhar para as areias da “princesinha do mar” e ver que estão tomadas por hastes de madeiras fincadas em toda a sua extensão, tomando conta do espaço que antes era ocupado por pessoas que se estendiam sob o sol ardente para bronzear o corpo e saborear o vento trazido pelas ondas...



Nos dias de sol estas hastes ganham redes e se tornam verdadeiras academias e clubes, onde poucos usufruem do espaço tão gentilmente cedido pela natureza e alguns ainda cobram para prestar serviços nestes recantos usurpados.

Em que pedaço de nossa existência perdemos a decência, a noção de respeito ao que é público e que o direito de usufruir o que a natureza criou é comum a todos?

Sem contar as estruturas que são montadas constantemente para shows e eventos, a areia agora é patrimônio de poucas pessoas e muitos pombos, que se regozijam na sujeira abandonada que já se entranhou nos grãos escuros...










Dar uma voltinha no famoso calçadão cantado em tantos versos pode ser decepcionante e até assustador, pois é impossível caminhar sem ser abordado pelos mais variados tipos de assédio

Desde um pedinte, que se irrita quando não é atendido até um vendedor, que negocia qualquer tipo de mercadoria que se possa ou não imaginar. O comércio ambulante é livre e se instala onde bem entende seu dono...

Decido voltar pra casa e no caminho vejo pessoas dormindo na areia, enroladas em cobertor, outras sentadas com o olhar paralisado, perdidas dentro delas mesmas ou no vazio... como saber?  

E penso se o poeta veria algum tipo de inspiração neste panorama ou se perguntaria o que foi feito com a “Copacabana, princesinha do mar”... Não sei responder, só sinto que voltei mais melancólica.