Sexta-feira, tarde cinzenta
e fria resolvo sair para esticar as pernas, cansadas de ficarem encolhidas pelo
frio atípico que se alojou na cidade em junho. Talvez, não fosse a melancolia
que sentimos nesses dias mais frios e nos torna mais sensíveis, eu não
perceberia o que vejo todos os dias.
Não pude
me esquivar dos sentimentos que tomaram conta da minha nostalgia ao olhar para
as areias da “princesinha do mar” e ver que estão tomadas por hastes de
madeiras fincadas em toda a sua extensão, tomando conta do espaço
que antes era ocupado por pessoas que se estendiam sob o sol ardente para
bronzear o corpo e saborear o vento trazido pelas ondas...
Nos dias de sol estas hastes ganham redes e se tornam verdadeiras academias e clubes, onde poucos usufruem do espaço tão gentilmente cedido pela natureza e alguns ainda cobram para prestar serviços nestes recantos usurpados.
Em que pedaço de nossa existência perdemos
a decência, a noção de respeito ao que é público e que o direito de usufruir o
que a natureza criou é comum a todos?
Sem contar
as estruturas que são montadas constantemente para shows e eventos, a
areia agora é patrimônio de poucas pessoas e muitos pombos, que se regozijam na
sujeira abandonada que já se entranhou nos grãos escuros...
Dar uma voltinha no famoso calçadão cantado em tantos versos pode ser decepcionante e até assustador, pois é impossível caminhar sem ser abordado pelos mais variados tipos de assédio.
Desde
um pedinte, que se irrita quando não é atendido até um vendedor, que negocia
qualquer tipo de mercadoria que se possa ou não imaginar. O comércio ambulante é
livre e se instala onde bem entende seu dono...
Decido voltar pra casa e no
caminho vejo pessoas dormindo na areia, enroladas em cobertor, outras sentadas
com o olhar paralisado, perdidas dentro delas mesmas ou no vazio... como saber?
E penso se o poeta veria algum tipo de inspiração
neste panorama ou se perguntaria o que foi feito com a “Copacabana, princesinha
do mar”... Não sei responder, só sinto que voltei mais melancólica.